Editorial do nº 6 da Observatório
TELEVISÃO, QUALIDADE E SERVIÇO PÚBLICO

placeholderO tema , ganha nos dias de hoje uma cada vez maior importância dada a identificação de um problema maior, ao qual, aliás, não tem sido dado o devido relevo ao longo da história da televisão. A saber – e tal como é referido no texto que publicamos da Unesco – o problema da legitimidade da radiodifusão pública num ambiente de concorrência comercial, procurando, por um lado, não se submeter aos imperativos da rendibilidade, e, por outro, demonstrando audácia e inovação e impondo padrões elevados ao mercado, servindo assim de referência.

É tão grande a importância social e cultural do emissor público que, como refere Anthony Smith a propósito da BBC – ela .

Este número 6 da Observatório, revista do Obercom – Observatório da Comunicação, procura ir ao encontro de um conjunto de preocupações sobre esta temática, reflectindo sobre a questão da qualidade – uma questão de difícil consenso, pela sua própria natureza -, associando-a à nova problemática do serviço público e dos desafios que se lhe colocam, complementando este dossier com alguns ensaios específicos ainda dentro da temática dos estudos televisivos.

O dossier abre com um texto do director, reunindo um conjunto de argumentos no sentido de defender um serviço público de televisão de qualidade inequívoca, enquadrado por políticas e investimentos ajustados à realidade e necessidades do país, quer no domínio da televisão generalista, quer também no domínio da televisão temática, atendendo neste último caso à importância da integração da televisão pública no âmbito das estratégias delineadas para a sociedade da informação e do conhecimento.

A questão da qualidade é analisada aprofundadamente num texto da investigadora espanhola Charo Gea. O artigo apresenta uma análise das questões mais significativas envolvidas no debate internacional sobre a qualidade da televisão nos países desenvolvidos, em particular, no Japão, Reino Unido, Estados Unidos da América e Suécia. Neles, têm sido realizadas investigações que propõem metodologias específicas para apresentar a qualidade televisiva a partir de diferentes perspectivas e critérios de avaliação. Este artigo analisa justamente as principais perspectivas de investigação e as diversas reflexões que desenvolveram critérios operativos e metodologias de análise e de avaliação do tema. Examina-se também os principais problemas que a definição do conceito de qualidade implica e os factores e requisitos fundamentais que podem contribuir para o desenvolvimento ou redução da qualidade televisiva.

Conjugar a categoria da qualidade com o género da ficção constitui, pelo contrário, o objectivo do contributo de Milly Buonnano, professora da Universidade La Sapienza, de Roma. O objectivo mais geral aqui presente é o de “redimir” a ficção da mediocridade cultural e artística que lhe é atribuída e imputada, e demonstrar que, sob determinadas condições, está em posição de satisfazer exigentes standards de realização criativa: é assim fundamental não se limitar a demonstrar o óbvio. O principal intuito é o de assinalar como, na delicada e problemática fase de desenvolvimento em que se encontra a indústria televisiva italiana, é necessário elevar o nível de debate e do conhecimento no que diz respeito a um recurso estratégico do “agir comunicativo” da televisão.

Dando sequência a esta temática mais conceptual, publicamos também as conclusões de um estudo de caso sobre a ficção televisiva portuguesa, trabalho coordenado por Isabel Ferin. Este estudo tem como objectivo analisar a evolução, nas televisões generalistas, do espaço ocupado pela ficção em português nos anos de 2001 e 2002. Considerou-se ficção em português, não só os conteúdos produzidos em Portugal mas, também, os géneros ficcionais produzidos no Brasil e exibidos em Portugal. Constituem o Corpus de análise duas semanas-tipo correspondendo, respectivamente, às grelhas dos dois anos.

E ainda uma reflexão sobre o tópico . O artigo de Ana Paula Menezes Fernandes compara o modelo de programação da televisão pública e privada assente na “guerra das audiências” que tem tido como consequência a crise no sector. Por outro lado, é analisado um período muito positivo da produção nacional reflexo da cda vez maior afirmação da ficção portuguesa, tanto nos mercados nacionais, como também nos grandes mercados internacionais.

Rogério Santos, nosso colaborador regular, trabalha desta vez sobre os 10 anos da SIC. O texto pretende ilustrar alguns dos momentos mais importantes desta estação de televisão, na altura em que passam dez anos sobre o começo da sua actividade. Quotas de mercado, estratificação sócio-cultural dos espectadores da estação, principais períodos da vida da estação, informação, programas e figuras emblemáticas, passagem de canal generalista para a realidade de canais temáticos e relação da estação televisiva com o Estado constituem alguns dos traços a desenvolver nas próximas páginas.

Publicamos ainda na íntegra um estudo da Unesco, de alguma forma subordinado à questão :

A fechar o dossier TV, publicamos um texto de Manuel João Vaz Freixo, que aborda as questões relativas à Televisão na sua relação com a Escola e os efeitos cognitivos das mensagens televisivas reflectindo sobre a sua importância na aprendizagem. Trata-se de uma análise importante, para um maior e melhor conhecimento da televisão e da sua utilização em contexto educativo, viabilizando assim uma educação para o uso da televisão e uma educação através da televisão.