TEXTO CLASSIFICADO EM 3º LUGAR NO PRÉMIO RIACHO 2004/05

O Frio, o Luar

O Inverno tinha finalmente chegado! A nudez das árvores, a sonoridade da chuva, a suavidade da neve, a simplicidade das cores... A melhor estação do ano regressava agora com toda a sua plenitude e beleza, modificando tudo e todos.

Sentada no banco do jardim, deliciava-me com os puros flocos de neve que poisavam no meu corpo... Admirava a sensualidade da sua forma de ser, de cair e poisar. Levemente, sem pressas, sem rivalidade, sem obsessão... Apenas desfrutando alegremente da liberdade momentânea com que eram privilegiados, daquele voo inocente e inigualável.

Estava um belo dia de Inverno: estava frio. Muito frio... O vento gélido percorria velozmente todos os recantos do meu corpo, gelando toda a minha alma... Aquele ar, puro, estridulo, delicioso, deixava-me completamente anestesiada, começando com uma dor profunda e findando com um majestoso prazer gelado...

O meu ser habituara-se lentamente àquela suave temperatura. Gosto dela, de sentir aquele frio cortante desfilando pelo meu corpo, desfilando como lâminas infinitas que deslizam lentamente em mim, agora que também a minha alma adquiriu uma temperatura extrema e negativa e que a minha mente goza do frio que eu adquiri como medida eterna... (O sol é como um veneno: enfraquece o corpo e provoca um imenso ardor no espírito...)

O nevoeiro, o luarejar, o obscuro envolveram-me nas suas eternais loucuras; coisas que me encantam: as noites de Inverno e a lua cheia que canta docemente a fim de me despertar para um novo mundo, num novo ser-astral... A neve, o frio, a escuridão, a chuva, os troncos despidos exibindo orgulhosamente a sua esplêndida nudez ... É neles que se concentra toda a minha felicidade, toda a minha juventude, todos os meus desejos! São eles que me dão vida, que me mostram o verdadeiro valor da existência, que dão um rumo desejável ao meu infindável propósito vital...

Penso como seria se tivesse caminhado por outro caminho, se tivesse seguido pelo mundo cor-de-rosa de calor e luz... Então, sou bombardeada por inúmeras perguntas, que me envolvem, me prendem e para as quais tento formular uma resposta, ou apenas dar o meu parecer - Onde estaria agora?; como seriam os meus pensamentos, qual seria o meu estilo de vida? Seria certamente infeliz, embora estivesse convencida que era a pessoa mais alegre do mundo (sobrevivendo graças à felicidade da minha ignorância); talvez me arrependesse diariamente de viver (lamentando-me inconscientemente do tédio e da rotina que me guiavam a caronte). Mas... será que no mundo que escolhi não tenho pensamentos semelhantes? Será que a tristeza, a solidão, o tédio, não são uma constante? O medo, a angústia, o ciúme... Sim! Também eles me perseguem, também eles me envolvem... Sinto-os! Possuem-me! Sou invadida por todos estes putrefactos sentimentos humanos! São como víboras poderosas que me prendem, me sufocam e me tentam matar! São como chamas penetrantes que queimam o meu corpo...!

Choro... Choro pela injustiça, pelo ódio, por este desejo de ansiar afastar as pessoas imperfeitas... Todas elas! (Porque me querem sujar com imperfeição.) Mas ao mesmo tempo de as aproximar de mim, de as abraçar e beijar... Choro porque não percebo a minha sarcástica dependência à humanidade, porque não sei como posso gostar de pessoas que tanto odeio! Choro pela minha vida. Mas amo-a! Amo-a incessantemente, eternamente. Quero-a, desejo-a: pura, bela e inocente! Com todos os seus excessos, com todo o seu esplendor, com toda a sua magia. Apenas a ela amo, só a ela! E a ela me entrego para sempre, não querendo nunca rebaixar-me perante as asfixiantes teias da morte (por mais que elas me puxem, me tentem enlaçar). A morte sempre me assustou. Antes, a sua pálida e mórbida aparência assombrava os meus pesadelos... Agora, tento ignorar a sua existência. Agarrar-me-ei à vida incessantemente! Vou lutar, sofrer e vencer! (Flashes repetitivos! Imagens de sangue, de dor, de morte, de sofrimento, de pânico! Saí, saí de dentro de mim, saí para fora de mim! Desaparecei! Quero ser livre e feliz!)

Sei que irei conseguir... Demore o tempo que demorar. Vou poder viver no meu majestoso universo nocturno, feito de gelo, de escuridão e de luar... Mas também de amor, de paz, de harmonia! Sim, finalmente vou poder permanecer eternamente dentro do meu próprio abismo! Onde mortal algum jamais cairá...

Mara Andrade (12º A)

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