Os media e a opinião pública

A Marktest.com iniciou no final de Outubro de 2002 a publicação de uma série de sondagens realizadas pela Marktest junto dos residentes na Grande Lisboa e no Grande Porto com o objectivo de medir o “sentimento” destas populações face aos acontecimentos que têm lugar no nosso país ou no estrangeiro. O objectivo é conhecer as suas opiniões face ao que consideram os acontecimentos mais positivos e mais negativos dos últimos sete dias.

Uma análise mais detalhada destes resultados permite tecer algumas considerações face ao efeito que a própria acção dos media pode ter na formação da opinião pública. Cruzando os dados obtidos semanalmente nestas sondagens com os fornecidos pela MediaMonitor sobre a exposição mediática (nesta análise, apenas TV) dos casos referidos na sondagem (ver gráfico 1) ficamos com uma informação extremamente rica.

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Da sua análise resulta que claramente existe uma relação directa entre a exposição de um determinado tema na televisão e a sua referência na sondagem. Mas isto aplica-se para os casos considerados como os mais negativos dos últimos sete dias. A sensação que temos de que estes são também os casos mais focados nos media pode ter com estes dados uma quantificação e verifica-se, de facto, tal situação.

No primeiro gráfico representamos as referências dadas em sondagem relativamente aos acontecimentos mais negativos (em coluna) e a sua exposição em notícias da TV (em linha). É possível verificar como as maiores referências em sondagem têm sempre uma maior exposição em noticiários da televisão.

Os casos que maior impacto registaram na opinião pública e nos media (TV) foram os recentes acontecimentos no Iraque, tema que surge pela primeira vez referido a 16 de Janeiro deste ano, mas que tem no mês de Março e início de Abril as maiores referências como o caso mais negativo da semana. É nesse período também que as televisões mais atentas estiveram ao caso, já que foi aí que mais tempo lhe dedicaram nos seus noticiários.

A correlação entre estas duas variáveis é de 0.7094, o que pode ser considerada uma correlação forte, mas o seu valor aumenta para 0.8182 quando analisamos unicamente as referências ao Iraque. Neste caso, a relação entre exposição mediática e referência na sondagem é maior.

A análise dos resultados permite ainda concluir que houve alguns casos que tiveram um grande impacto na opinião pública mas que não obtiveram por parte das TVs a mesma atenção: o caso dos reféns no teatro de Moscovo em finais de Outubro de 2002, as primeirras referências ao Prestige em meados de Novembro de 2002 e as primeiras referências à pedofilia/Casa Pia em finais desse mesmo mês. Nestes casos, as referências em sondagem foram bastante elevadas (próximo das referências ao Iraque), mas não registaram por parte das televisões a mesma cobertura noticiosa.

Uma outra análise dos resultados disponíveis diz respeito à identificação dos acontecimentos mais positivos da semana. Em todas as sondagens, a taxa de não resposta é consideravelmente elevada, mas observamos como existe uma certa tendência para que quando são dadas referências elevadas a casos negativos, também aumenta a não resposta nos casos positivos. Quase que poderíamos dizer que o impacto daqueles é tão grande na opinião pública, que anula o efeito destes.

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