Sondagens políticas
Luís Queirós, Director Geral da Marktest Os elementos disponíveis são os da ficha técnica divulgada no Público de dia 3 de Julho de 2003. Embora na ficha não seja dito de forma explícita, subentende-se que a entrevista foi feita de forma presencial no lar de residência dos entrevistados... Para a selecção da amostra, a UC utilizou um método que consiste em reduzir o Universo do estudo a um sub-Universo constituído por 18 freguesias que são seleccionadas de forma a reproduzir, com uma boa aproximação, os resultados eleitorais das últimas legislativas. Eu devo confessar que não gosto do método e tenho para mim que é mau. Mas desconheço a forma exacta de fazer a selecção das freguesias, nomeadamente a imposição ou não de uma quota de repartição regional e a atribuição de diferentes probabilidades de selecção às freguesias de acordo com o número de eleitores ou de votantes. Mas arrepia-me só de pensar que nas 18 freguesias escolhidas não se encontre, por exemplo, nenhuma dos concelhos da cintura de Lisboa ou do Porto. A ficha técnica não indica como foram seleccionados dentro de cada freguesia os pontos de amostragem, ou seja o ponto de partida para o tal caminho aleatório sistemático que é percorrido pelos entrevistadores. Numa freguesia, não é indiferente iniciar o percurso no centro histórico da freguesia ou num bairro periférico muitas vezes mal referenciado. Também não é aconselhável deixar esse ponto de partida ao arbítrio dos entrevistadores. Sobre o “caminho aleatório sistemático” eu presumo que a ficha técnica faz referência ao método designado por random-route que é um método anglosaxónico mas que sempre encontrou em Portugal, por razões de natureza geográfica e urbanística, fortes dificuldades e reservas de implementação. Em habitats rurais o método é inaplicável e mesmo em aglomerados urbanos eu tenho fortes dúvidas que se consigam implementar regras seguras e controláveis para garantir que dois entrevistadores, actuando de forma independente e partindo da mesma posição, sigam exactamente o mesmo caminho. A minha experiência levou-me a abandonar e a desaconselhar o método. A ficha técnica tem uma grande lacuna, pois não refere o que acontece se numa família seleccionada pelo tal percurso aleatório ninguém responder quando o entrevistador toca à campainha ou bate à porta. Volta mais tarde? Segue em frente? E se a pessoa contactada recusar? Mas a maior lacuna, em minha opinião, consiste em não esclarecer um ponto fundamental. Se forem as pessoas “residentes”, no caso de ausência do seleccionado, o lar necessitará de voltar a ser visitado em dias diferentes a horas diferentes ou a pessoa seleccionada deverá ser substituída com regras bem definidas. Este procedimento alarga o prazo de trabalho de campo e aumenta os custos da recolha. A sondagem da Católica foi realizada em dois dias (sábado e domingo de época de praia e de festas) o que sugere que o procedimento, se existiu, poderá ter sido aligeirado. Os institutos de estudos de mercado enfrentam hoje imensas dificuldades para realizar entrevistas. Uma boa parte da população (possivelmente mais de 50%!!!) é incontactável, por recusar, por ter horários de presença no lar incompatíveis com os horários das entrevistas ou por residir em zonas protegidas (tipo condomínio fechado ou de difícil acesso). Infelizmente, a actividade é muito contaminada pelas vendas agressivas e pelo telemarketing. Mas nada ganhamos em camuflar esta realidade! Luís Queirós |
Notícias
Notícias da mesma semana
Dossiers ver mais
- CEO Summit
20 a 22 de janeiro de 2025
Insights Association
Naples Grande, Flórida, EUA
- AI: powering-up consumer insights
23 de janeiro de 2025
MRS - The Market Research Society
Londres, Inglaterra