Opinião e Educação Opinião e Educação Luís Queirós, Chairman do Grupo Marktest, reflete sobre a educação e o projeto NEPSO, que a Fundação Vox Populi desenvolve em Portugal há mais de três anos. Grupo Marktest 4 fevereiro 2014
![]() Luís Queirós, Chairman do Grupo Marktest Na opinião de muitos dos professores participantes no Nepso - a nossa Escola pesquisa a sua opinião - da Fundação Vox Populi, o programa tem-se revelado uma ferramenta útil e importante para a aprendizagem. Os alunos pesquisam, trabalham em equipa, vencem obstáculos, criam conhecimento. E, em muitos casos, entusiasmam-se e mostram-se empolgados com os resultados. No ensino tradicional, tudo se orienta para o saber que. Com os projetos do Nepso procura-se que os alunos fiquem a saber como. No início, ao escolherem o tema que vão pesquisar, os participantes acham que sabem muito sobre ele. Mas rapidamente descobrem quão pouco sabem. Ao longo do projeto, assiste-se a uma evolução que parte da opinião sobre um assunto para chegar ao conhecimento sobre esse assunto. Os gregos utilizavam a palavra doxa (que encontramos em ortodoxo, por exemplo) para significar as crenças, os juízos, as tradições do povo, que constituem a sabedoria popular. O conceito corresponde ao de opinião pública no sentido que hoje lhe damos; por oposição, eles designavam por epistemê o saber científico, fundamentado e reservado a uma elite estudiosa, esforçada e desejosa de aprender. Platão, que se ocupou do assunto nos seus diálogos, considerava que a doxa era manipulada pela retórica dos sofistas. E que isso punha em causa a própria democracia. Porque, em democracia, o poder detido pelos governantes, emana do povo que os elege. Ora a força do povo está no voto, que traduz e representa a opinião pública. E se a opinião publica não é o verdadeiro conhecimento, e pode ser manipulada, então a democracia que dela deriva assenta em sofismas e não na verdade. Penso que será este o argumento dos que defendem que a democracia tem de evoluir para a meritocracia. No mundo atual, dominado pelos regimes democráticos, a questão da opinião pública e da democracia não pode ser ignorada. Na Alemanha dos anos 30, a opinião pública era favorável a Hitler, condenava os judeus, aceitava naturalmente a supremacia da raça ariana. Também no Portugal do Estado Novo a doxa era salazarista. Serão casos extremos, concordo, onde não existia liberdade e se manipulava a opinião das pessoas pela propaganda. Mas o essencial mantém-se: o objetivo do discurso político não é o epistemê, mas sim a doxa. Entre um discurso demagógico ou sofista que traz votos e um discurso realista e verdadeiro que afasta votos, o político opta pelo primeiro. E sabendo que é a opinião pública que está na base do poder, recorre-se a técnicas para formar ou deformar essa opinião. A importância e o papel dos meios de comunicação e das sondagens é mais do que conhecida. O efeito de entrar no bandwagon (à letra o carro da banda, em português traduzido no ditado maria vai com as outras) diz-nos que uma opinião reconhecida como dominante tende a atrair cada vez mais pessoas. E em tudo, na política e até na economia, procura criar-se a moda favorável, seja a que preço for. A Escola deve formar homens e mulheres preparados para tomarem as suas decisões, e fazerem as suas opções com base no epistemê e não na doxa. Para a formação das crenças, para a afirmação dos valores, para a construção da personalidade contribuem vários fatores: familiares, sociais e, sobretudo, educacionais. No tempo que vivemos, o papel da escola dilui-se. A televisão e a internet absorvem uma boa parte do nosso tempo, e têm uma enorme influência na formação da personalidade e da opinião acéfala. Mas a Escola pode e deve contrariar a retórica sofista como a definia Platão. O Nepso é uma ferramenta orientada para o epistemê, que ajuda os jovens a encontrar o caminho para construir opinião crítica e fundamentada. |
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