Sondagens de Opinião Grupo Marktest, 17 fevereiro 2005
![]() Luís Queirós, Presidente do Grupo Marktest De alguma forma, os resultados das sondagens, que se deveriam limitar apenas a ser medições, são também usados como argumentos nas campanhas eleitorais. Não espanta, por isso, que, do lado dos políticos, se levantem vozes alertando para a necessidade de sondagens independentes, rigorosas e transparentes. Um dos argumentos utilizados pelos críticos da qualidade das sondagens é o de que, em eleições anteriores, as sondagens de opinião terão falhado, como se as sondagens fossem um simples jogo de azar e a sua credibilidade se medisse pelo acertar ou falhar. Na verdade, até as "boas" sondagens, em determinadas situações, estão condenadas a "errar"! Veja-se o que aconteceu nas últimas eleições presidenciais em França alguém duvidará que, se acaso fosse previsível, pelo resultado das sondagens, a passagem de Le Pen à segunda volta, teria sido Jospin a disputar a final com Chirac? Isto é, as sondagens, em França, só podiam "errar" na situação pré-eleitoral. Dito de outro modo: mostrando os resultados das sondagens Jospin a ganhar, passaria Le Pen à segunda volta, como aconteceu; se, ao contrário, colocassem Le Pen à frente, seria Jospin a passar à segunda volta. Também em Portugal isso se tem verificado. Nas últimas eleições autárquicas, no Porto, por exemplo, no que podemos chamar a primeira volta das eleições, a das sondagens, deu claramente a vitória a Fernando Gomes. Na segunda volta, a das urnas, venceu Rui Rio; e só ele parece não ter percebido (pois veio logo a seguir atacar e criticar as sondagens!) a importância dessa primeira volta para explicar os resultados da segunda. O CDS/PP é um partido que, em eleições, pelo efeito da reflexividade, parece beneficiar, nas urnas, dos fracos resultados que obtém nas sondagens. Este é o paradoxo das sondagens e resulta da lei da reflexividade. Ou seja, os resultados das sondagens podem alterar o posicionamento dos eleitores que, perante um determinada perspectiva, votam (ou abstêm-se) estrategicamente - se assim se quiser dizer - no sentido de alterar essa perspectiva em conformidade com a sua preferência. Também se ouvem vozes argumentando que o método de entrevista telefónica para a realização de sondagens peca por deficiente cobertura do universo eleitoral já que não inclui os lares sem rede fixa de telefone. Para esses seria preferível a entrevista pessoal. No entanto, e no actual contexto da realização de sondagens em Portugal, eu estou convencido que, face às sondagens por entrevista pessoal - as quais, por razões de vária ordem, têm limitações, a menos importante das quais será o seu custo -, o método de entrevista telefónica, por permitir uma maior acessibilidade e uma maior dispersão dos elementos a inquirir e por recorrer a entrevistadores mais profissionalizados, garante uma maior representatividade das amostras e uma maior fiabilidade dos resultados. Em Portugal existe legislação e existe um organismo, a Alta Autoridade para a Comunicação Social (AACS), a quem incumbe a fiscalização das sondagens realizadas para publicação. Mas a fiscalização é uma mera formalidade, pois o organismo a quem cabe controlar as sondagens não tem condições para fiscalizar a efectiva conformidade entre a sondagem e a ficha técnica, isto é, entre o que se faz e aquilo que se diz que se faz. Para as empresas filiadas na APODEMO (Associação das Empresas de Estudos de Mercado e de Opinião), as sondagens de opinião representam uma fracção muito pequena e marginal do seu volume de facturação anual, seguramente nunca mais de 2 ou 3 por cento, mesmo em anos eleitorais, o que lhes permite uma muito confortável independência face a este tipo de estudos. Elas regem-se, na sua actividade, por normas de conduta ética e deontológica rigorosas, as quais são essencialmente baseadas no Código da ESOMAR. Poderão pois os políticos estar tranquilos sobre a transparência, a independência e o rigor das sondagens de opinião que estas empresas realizam. Luís Queirós |
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