Luís Queirós, Chairman do Grupo Marktest e Fundador da Fundação Vox Populi O Espelho da Nação Os portugueses, entrevistados pela Marktest para este estudo concebido pela Fundação Vox Populi, fazem uma avaliação muito negativa do seu país. Numa escala de 0 a 200 - uma forma de recriar a velha escala académica de 0 a 20 - o "estado da nação" recebe a nota de 72 pontos (ou "7,2 valores" na escala de 20, se preferirem), nota que, nas classificações simplificadas das provas nos antigos liceus, deveria corresponder a "medíocre". É uma nota média, calculada a partir de um conjunto de catorze outras notas atribuídas a outras tantas dimensões, as quais, no nosso entender, caracterizam o desempenho de Portugal. Mas, sendo Portugal o conjunto dos portugueses (os que estão vivos, os que já partiram e os que hão-de vir, como definiu Hernâni Lopes), esta é uma forma reflexiva de os portugueses se auto classificarem. Será, pois, a imagem que o espelho nos devolve de nós próprios. O que se torna algo paradoxal, pois parece existir na nossa mente a distinção entre "nós" e os "outros" quando de portugueses falamos. E, concluo eu, serão os "outros" e não "nós" próprios que classificamos com estas notas tão baixas, ao verificar quão generosos somos, por exemplo, a avaliar a " Imagem que damos no Mundo", a mais elevada no conjunto das catorze. Será porque, nessa dimensão particular, estamos a avaliar ao mesmo tempo "nós" e os "outros"? E não aceitamos dar uma imagem negativa de nós próprios? E, ao atribuir nota "mau" à dimensão "Corrupção", estamos seguramente a falar dos "outros" ou de "outros" portugueses. E, finalmente, como explicar esta aparente contradição que está patente no facto de atribuirmos a nota "33" ao "Estado Económico do País" e a nota "85" à nosso própria situação económica individual? Como se cada um de nós se considerasse a única parte sã de um corpo em putrefacção! Foi este estudo realizado no primeiro semestre de 2010, tendo sido inquiridos cerca de dois mil e quatrocentos portugueses. Com a volatilidade e com a rapidez com que as coisas acontecem, poderá ser que esta avaliação, apenas alguns meses depois, já esteja desactualizada, tendo em consideração as convulsões financeiras que o mundo, e muito em particular o nosso país, tem atravessado. Mas o estudo vai repetir-se todos os anos, e isso vai permitir-nos aferir as mudanças. Este é o contributo que a Fundação Vox Populi quer dar a Portugal, colocando-lhe, à sua frente, um espelho onde se poderá mirar. Queremos contribuir para um melhor conhecimento de nós próprios enquanto povo. E esta é a nossa quota-parte para o esforço que acreditamos necessário para levantar, hoje e sempre, o "Esplendor de Portugal". Luís Queirós Presidente da Fundação Vox Populi |