Jorge Alves homenageado no Congresso da Apodemo
Luís Queirós,  24 maio 2005

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Jorge Alves,
Antigo Director da ACNielsen Portugal
No inicio dos anos 70, quando comecei a trabalhar no departamento de Estudos de Mercado da Nestlé, as apresentações da ACNielsen constituíam um ritual que se repetia de dois em dois meses. Eram calendarizadas com boa antecedência, confirmava-se a disponibilidade de todos de forma a que ninguém pudesse faltar.

Jorge Alves, director da Nielsen, muito pontual, chegava sempre antes da hora da apresentação carregando um retroprojector de acetatos, um ecrã e uma grande pasta.

Os especialistas de produto cedo tomavam o seu lugar e, aproveitando a presença de uma fonte de informação sempre actualizada, iam comentando descontraidamente as últimas do mercado, da política ou do social.

Quando chegava o director comercial, (o imponente Lemos, o beijoqueiro Mieville ou o versátil Nuno do Carmo) punha-se um ar mais sério e entrava-se propriamente na matéria do dia.

Para quebrar a rotina dos quadros que se iam projectando, o Jorge Alves apresentava sempre umas análises especiais, feitas a caneta de feltro sobre os acetatos, sempre muito comentadas, e das quais, no final, invariavelmente toda a gente requisitava fotocópias que a Maria Genoveva se encarregava de distribuir.

Havia sempre lugar a um esclarecimento suplementar sobre "distribuição ponderada" que aquilo metia fórmulas, era conceito um pouco complicado de entender - uma coisa mais para os técnicos.

O Sr. Cunha, que carregava nos çç e tinha vestígios de um sotaque abrasileirado, às vezes interrompia com um "Olha aí" e aproveitava para desenvolver elaborados raciocínios.

O Sr. Vilan sofria muito com o share dos caldos Maggi, que não havia promoção "4x1" que fizesse subir dos 18%. A marca era a ovelha ranhosa duma empresa que liderava em todos os mercados - pudera, tirando a Knorr, a concorrência era frouxa, até se desdenhava dizendo que o cacau açucarado Coqui era fabricado numa garagem dentro de uma misturadora da construção civil...

O Alberto Meirelles, com uma pose sempre aristocrática, invocava com gravidade a sua estadia em França ou a sua anterior experiência de estudos de mercado e punha sempre muito charme e muita graça nas suas intervenções.

Acreditava-se muito nos resultados da Nielsen e arranjava-se justificação para tudo, mesmo para aquilo que não se podia justificar: falta de produto, acções da concorrência, pressões do fecho do mês... A distribuição dos produtos era elevada...e, muito confiante por ser o homem que trazia o dinheiro para a empresa, o António Martins, chefe de vendas, bem garantia: "O produto está lá, meus senhores", como que a dizer aos especialistas de produto: agora é a vossa vez de o fazer sair das prateleiras.

Mesmo nos conturbados meses que se seguiram ao 25 de Abril, nada pacíficos dentro da Nielsen, não me recordo de uma única vez em que o Jorge Alves tenha chegado atrasado ou tenha cancelado uma reunião. Para nós, que nos anos setenta tivemos o privilégio de trabalhar em empresas internacionais, o prestígio da Nielsen esteve sempre associado à imagem, ao profissionalismo, ao rigor e à competência dos seu Director Geral.

Jorge Alves foi acima de tudo aquilo que a palavra client service tem de melhor: um servidor de clientes. Pessoas como o Jorge são um grande exemplo que deve ser preservado e transmitido a todos os jovens que hoje iniciam a suas carreiras no marketing e nos estudos de mercado.

Luis Queirós
Presidente do Grupo Marktest

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